Sou a face explícita

23 agosto 2009

O sono das águas

Há uma hora certa, no meio da noite, uma hora morta ,em que a água dorme.
Todas as águas dormem: no rio, na lagoa, no açude, no brejão, nos olhos d’água, nos grotões fundos
E quem ficar acordado ,na barranca, a noite inteira, há de ouvir a cachoeira parar a queda e o choro, que a água foi dormir…
Águas claras, barrentas, sonolentas, todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas, fios brancos, torrentes.
O orvalho sonhanas placas da folhagem e adormece.
Até a água fervida, nos copos de cabeceira dos agonizantes…
Mas nem todas dormem, nessa horade torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando, e chorando, a noite toda, porque a água dos olhos nunca tem sono…
Guimarães Rosa

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