Sou a face explícita

29 março 2012

Imobilidade


Os olhos refletem o espírito com sua destreza.
O queixo apoiado sobre a mão, o peso do mundo.
Homens aguardam seu momento
Talvez uma resposta,
Talvez um quem sabe,
Talvez aguarde mais um pouco.
Uns choram,
Outros esnobam,
Outros pensam,
Outros se deixam levar.
Vem à indiscreta luz se lançar na indecisão.
Alguém espera
Alguns seguem
Alguns chegam
Com a imobilidade do corpo de esfera,
No chão que mira olhos despencados no tempo;
Mãos que cruzam em sinal de descontentamento
Quando nem um se movimentou
O outro chega para a fila da imobilização
Neste instante
Alguém protesta contra os contras,
Alguém investe no vale da pena,
Alguém insiste no começo do não consigo,
Alguém celebra a conquista do impossível
Enquanto alguém sonha
Com árduas imagens
O que ainda torna possível algo sentir.
E. Menezes

14 março 2012

Procura-se um Amigo

"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."
Vinicius de Moraes

Nada definiria melhor meu pedido como o texto do nobre poeta.
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