Os galos cantam, no crepúsculo dormente
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma
Fica-se longe, quase morta, como ausente
Sem ter certeza de ninguém, decoisa alguma
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,
De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma
E os galos cantam, no crepúsculo dormente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
Tão para lá
No fim da tarde além da bruma
E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma
Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma
E os galos cantam, no crepúsculo dormente.
No céu de outono, anda um langor final de pluma
Que se desfaz por entre os dedos, vagamente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
Tudo se apaga, e se evapora, e perde, e esfuma
Fica-se longe, quase morta, como ausente
Sem ter certeza de ninguém, decoisa alguma
Tem-se a impressão de estar bem doente, muito doente,
De um mal sem dor, que se não saiba nem resuma
E os galos cantam, no crepúsculo dormente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
A alma das flores, suave e tácita, perfuma
A solitude nebulosa e irreal do ambiente
Os galos cantam, no crepúsculo dormente
Tão para lá
No fim da tarde além da bruma
E silenciosos, como alguém que se acostuma
A caminhar sobre penumbras, mansamente,
Meus sonhos surgem, frágeis, leves como espuma
Põem-se a tecer frases de amor, uma por uma
E os galos cantam, no crepúsculo dormente.
Cecília Meireles