Sou a face explícita

06 agosto 2009

Nocturne

Nem uma guerra abafará meus sussurros de paz.

Exatidão

Agita-se no ar
O chamado desafio
De domar tua alma
Mergulhada em pensamentos
E agriolhada na imersão
Das múltiplas situações
Desarticuladas no testemunho
Por uma definida razão.
São temores oblíquos e desconexos
Que por assim serem
Eximem o espírito da injustiça verbal.
Alicie esta criatura
Armada em sorrisos
Louca e precisa
No domínio da exatidão.

EMenezes

Fantasia

Infiltramos o sonho em nossos desejos,
E enebriados ficamos no transcorrer do tempo.
Que se prende as asas da preguiça.
Estamos diante de nós mesmos, em julgamentos
Buscando respostas do enigma em âmbito ideológico.
Os fantasmas sobrevoam a solidão e
Permitem que assistam ao espetáculo.
Eis que começo a fazer parte desse show
E me entrego a delícia de existir.
Agora estou em tudo que se faz perder em mim
Nas buscas de instantes, como trajetórias únicas,
Que não se findam após o gozo,
Porque descobra-se para nós a oportunidade
Dentro de uma mesma intenção.
Liberta-se fantasmas,
E agora somos nosso próprio espetáculo
Com refletidas imagens cansadas da satisfação.

EMenezes

Midsummer Night's Dream

O lunático, o amante, o poeta são todos densos de imaginação.
Alguém enxerga mais demônios do que no inferno,
Pois este é o louco; o amante desvairado,
Vê beleza de Helena em fronte egípicia:
Oolhar do poete, a rolar sem descanso
Corre do céu à terra, e desta ao céu,
E, enquanto a imaginação vai encarnando
Os corpos de coisas ignotas, a pena do poeta
Dá-lhes formas, e a simples fantasmas
Atribui habitação e nome.

(Declaração do duque Teseu V, I, 7-17)

In Extremis

In Extremis

Nunca morrer assim!
Nunca morrer num dia
Assim!
De um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria!
Postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados...
E um dia assim!

De um sol assim!
E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda!
O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...
E, aqui dentro, o silêncio...

E este espanto!
E este medo!
Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais a morte...
Eu com o frio a crescer no coração, — tão cheio

De ti, até no horror do verdadeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!
E eu morrendo!

E eu morrendo,
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida!
A delícia da vida!

Olavo Bilac

Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte ?

Ferreira Gullar

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