Sou a face explícita

07 setembro 2009

Johann Pachelbel



Foi músico, compositor, organista e professor alemão.
Obras mais célebres, Cânone em Ré Maior e Fugas para Magnificat.

Condição humana

Os homens são atormentados pelas idéias que têm das coisas, e não pelas próprias coisas. Haveria um grande ponto ganho para o alívio da nossa miserável condição humana se pudéssemos estabelecer essa asserção como totalmente verdadeira. Pois, se os males só entraram em nós pelo nosso julgamento, parece que está em nosso poder desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se entregam à nossa mercê, por que não dispomos delas ou não as moldarmos para vantagem nossa? Se o que denominamos mal e tormento não é nem mal nem tormento por si mesmo, mas somente porque a nossa imaginação lhe dá essa qualidade, está em nós mudá-la. E, tendo essa escolha, se nada nos força, somos extraordinariamente loucos de bandear para o partido que nos é o mais penoso e dar às doenças, à indigência e ao desvalor um gosto acre e mau, se lhes podemos dar um gosto bom e se, a fortuna fornecendo simplesmente a matéria, cabe a nós dar-lhe a forma.
Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exatamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, exceto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais orgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das idéias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.

M. Montaigne

Velho Tema

Só a leve esperança, em toda vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Vicente de Carvalho

A Inominável

Leve… – Pluma… Surdina… Aroma… Graça…
Qualquer coisa infinita… Amor… Pureza…
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem presa…

Silenciosa. Imprecisa. Etérea taça
em que adormece luar… Delicadeza…
Não se diz… Não se exprime… Não se traça…
Fluido… Poesia… Névoa… Flor… Beleza…

Passa… – É um morrer de lírios… Olhos quase
fechados… Noite… Sono… O gesto é gaze
a estender-se, a alargar-se… – E enquanto vão

Fugindo aos passos teus, Visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida…
Silêncio! Divindade! Iniciação!

Cecília Meireles
pegue a sua no TemplatesdaLua.com

Translate